Provavelmente já ouviste falar de meditação, mas não achaste que irias conseguir meditar. Ou talvez não tenhas tentado conseguir, ainda. Eu poderia utilizar este podcast para trazer a lista de benefícios, mas prefiro que descubras por si mesmo. Mais cedo ou mais tarde, podes começar, não podes? Para isso, perguntei-me o que gostarias de saber primeiro e cheguei à conclusão de contar a minha experiência pessoal. A maneira como comecei, não a primeira, mas aquela vez em que consegui.
Antes do despertar espiritual eu achava tudo muito longe do alcançável essa história de meditar, muito contrário a mim. Achava parvo, achava que eram manias. Mas sempre me era recomendado, sempre. Por muito que achasse estúpido, foi plantado uma semente. Mais adiante, numa altura turbulenta da minha vida, que me sentia um pouco perdida, trabalhava muito, ainda por cima, num lugar que eu detestava. Percebi que assim eu não ia continuar. A semente começou a nascer.
Eu pensei em experimentar. Naquela altura não sabia muito bem o que era, e o que me diziam era demasiado confuso. Pesquisei e tentei meditar com aquele conselho de focar na respiração, mas logo desisti, não funcionava para mim. Em vez de meditar, eu fazia esforço. Sei que há outra que é focar nos sons à nossa volta, ou nas sensações físicas, e tudo bem. Mas para mim não começou assim.
Pesquisei e calhei num vídeo que ensinava de uma forma muito prática e simples a começar. E com essa ajuda, consegui, descomplicou o que é meditar. Não me lembro do vídeo, mas não vou ensinar o que lá está, vou explicar do meu jeito. Reparem que nós estamos habituados a muita informação, muitos pensamentos e achamos isso o normal. Tão normal que parece coisa de doido a questão de ‘calar a mente’. Pois não calamos a mente assim dessa maneira. Essa é uma expectativa irrealista que faz muitos de nós desistir antes mesmo de começar.
A maneira que eu consegui foi; entender que até no falatório contante da nossa mente, existem silêncios. E é o silêncio que dá força, forma e sentido às frases. Entre pensamentos existem silêncios. Entre palavras existe silêncio. Pode ser muito curto ou muito longo, mas ele existe. Eu aos poucos fui conseguindo aumentar o tempo de silêncio entre os meus pensamentos. Simplesmente sentei-me na cama, encostada ao travesseiro e mudei o foco.
Aceitava que a mente falava. Deixava-a em paz na sua confusão. Só que o meu foco estava nos silêncios, não em continuar ou alimentar os pensamentos. Os pensamentos já não eram importantes eu queria era o próximo silêncio. Então, entre os pensamentos, quando acontecia o silêncio eu ficava contente. Primeiro 5 segundos, depois 10 segundos, depois 30 segundos. 1 minuto, 5 minutos. Por exemplo, aos 30 segundos em silêncio mental, os meus pensamentos já eram “estou a conseguir!”, “isto resulta”. Começou a ser agradável. Com treino o tempo de silêncio aumentava. E para quem é preocupado e ansioso, sabe que trás alívio. Quando passado 2 minutos de silêncio vinha um pensamento qualquer, não fazia mal, eu gentilmente encaminhava-o.
Claro que depois de vocês acabarem de discutir com alguém, encaminhar gentilmente pensamentos não dá. Meditação não é uma coisa de gente séria, nem de esforço, é brincadeira, é leveza. Sabem um dia de trabalho a servir num restaurante cheio de gente com imensa barulheira, e aquela altura que sai o último cliente, se desliga a música, e o silêncio reina? É maravilhoso, não é? Mesmo que nunca tenham trabalhado num restaurante, conseguem imaginar. Pois quando o pensamento vinha, pacientemente esperava o próximo silêncio e deixava-o expandir-se, e o sentimento de bem-estar crescia junto. Comecei a sentir sensações que não consigo descrever quando acontecia o silêncio, e isso fez com que eu continuasse o treino. Essas sensações são boas é como uma nova energia a percorrer o corpo.
Recentemente, li um bocado do livro do Osho "Como silenciar a mente" que alias ainda estou a ler e recomendo vivamente que leiam também, foi aí que eu decidir gravar este áudio, segura que não ia dizer disparate, compreendi que aquilo que eu fiz para conseguir começar a meditar, faz sentido. Tal como aquele vídeo anos atrás me ajudou, talvez este áudio ajude alguém.
Nunca compreendi muito bem a história de meditar com algum objetivo, nem de meditar numa determinada posição. Não que isso seja errado, mas para mim era muito forçado. Para mim o objetivo de meditar, é só meditar. Meditar é ser. Pensar é diferente de ser. Então, a mente significa palavras, o ser significa silêncio. É como se o meu verdadeiro ser, naquele momento em que a nova energia percorre o meu corpo, fosse esse estado de silêncio.
Já ouviram com certeza aquela lengalenga de que nós não somos os nossos pensamentos, não somos os nossos sentimentos, não somos o que fazemos, não somos o que experienciamos. Nós somos o ser que observa tudo isso, em silêncio e em paz. Não quer isso dizer que não podemos pensar, nem falar, nem agir, nem nada. Podemos claro. Vou dar um exemplo: experimentem falar com as pessoas que vos aparecem à frente depois de uma maravilhosa notícia que esperavam há muito. O que é que vocês fazem? A pessoa nem diz nada que vocês estão tão felizes vão lá e abraçam e contam a boa notícia. Vocês lembram-se sequer de falar das desgraças do mundo? Então a ideia é essa. Só que em vez de esperar a boa notícia acontecer, vocês conseguem atingir um estado de ser; felicidade. Por vocês mesmos.
É meditar na maravilha de simplesmente existir, e depois ir para o mundo, falar, agir, pensar, fazer acontecer tendo como base uma maravilhosa energia e um bem-estar que só se sente quando se existe. Como falei existir é silêncio. Tu és o silêncio e não o monte de pensamentos. É isso que eu quero dizer. É por isso que o intervalo entre palavras está o silêncio. É por isso que o silêncio dá sentido às palavras. É o ser que trás o sentido à vida, e a vida devolve o sentido do ser. Esta é a minha ideia do que é e para que serve meditar.
Tendo em conta a ideia de que nada externo nos vai dar a tamanha felicidade que sentir a verdadeira presença do nosso próprio ser, nos transmite.
Bem… podia divagar muito sobre este assunto que é um assunto que eu adoro. Mas vou parar por aqui, espero que tenha sido esclarecedor. Só não se iludem a achar que é de um dia para o outro. Nada verdadeiramente glorioso foi feito de um dia para o outro. Outra coisa, não é para forçar, é para brincar.
Estou curiosa para saber o que acharam deste artigo e ler os vossos comentários construtivos.