Claro que nós não sabemos o que fazer com aquilo que o nosso corpo sente. Não fomos educados para isso. O que fazer com a raiva?
Neste texto vou explicar um pouco do que podemos fazer quando sentimos raiva, especificamente, sem rodeios e sem cientificar o discurso.
Sentimos raiva quando somos desrespeitados, quando um limite nosso foi ultrapassado, quando as coisas não correm à nossa maneira, quando não nos entendem e por ai fora. Existem muitos motivos sim e todos eles podem nos acontecer diariamente.
O que fazer nestes casos quando a raiva se mostra presente? Primeiro, não a engolir, segundo, não bater nos outros nem explodir para cima do outro. A raiva é um feedback do corpo para alertar para algo que se passa. Quando a negamos retiramos poder de decisão, responsabilidade. É quase como um completo retirar da vida. A vida não é minha. Quando o nosso corpo sente, precisamos escutá-lo e transformar a raiva em ação. Ação, repetindo, que não seja bater no outro ou reprimir. Claro que isso também implica termos consciência e auto controle.
Quando a raiva se torna excessiva significa que existem muito trabalho e mudança a fazer. O que aconselho é exercício físico e auto análise para compreender o que a situação pede que faça. Depois da raiva aceite e expressa (canalizada como exercício físico).
Bater no outro significa que o culpamos. Achar que somos más pessoas porque surgiu um pensamento do género “ai meu deus que má pessoa que eu sou como é possível que me tenha passado pela cabeça dar-lhe um murro nas trombas” é culparmo-nos. Respetivamente: é canalizar a raiva de um modo nada positivo e no exemplo a seguir reprimir a raiva.
A raiva aqui não foi utilizada de forma ideal. Ela pede uma consciencialização e mudança. Bater no outro não muda nada. Reprimir a raiva também não muda nada. Quero dizer não muda para melhor.
Quando nos surge um pensamento de violência ou agressão para outrem tenham calma. O nosso cérebro funciona como ele funciona. Ter um pensamento não significa que o ato foi feito. O que precisamos de colocar em prática é a consciência de que ao observar o pensamento, ele não é aceite e portanto pode seguir caminho. Não precisamos de aceitar um pensamento quando ele aparece. Se me vier à mente um pensamento de que eu sou a presidente de Portugal, eu vou observar o pensamento e dizer que não faz sentido o que eu estou a pensar. É mais ou menos isso que refiro. Observar o pensamento é refletir sobre se ele pode ficar ou sair. E todos os pensamentos podem sair da mesma forma de entraram sem aderirmos uma emoção a ele. Se eu penso “sou má pessoa” e deu uma justificação emocional acoplamos o pensamento para que fique intrínseco.
O que interessa é recolher informações do corpo já que não nos vai mentir.
Raiva é poder, é energia e ímpeto para a ação. Se nos queixamos da raiva, estamos a aceitar que a passividade é o único modo de vida aceitável.
Exemplo de reprimir a raiva ou fazer uma mudança
Vamos imaginar que tem um familiar que é narcisista e que na presença dele consistentemente sente raiva. Como o corpo não foi ouvido essa raiva acumulada gera uma explosão ainda maior e que se vê com a mão levantada pronta para bater nesse familiar. Isso choca e com muito auto controle deixou a mão no ar para a seguir a baixar com uma sensação de culpa extenuante. Horas mais tarde, já longe do familiar pensa “meu deus devo ser má pessoa”.
Vamos analisar esta situação:
Aqui a raiva é reprimida. Continuamente a relação com o familiar não era repensada. O corpo dá sempre sinais do que sentimos quando estamos com os outros. O que a raiva vinha a pedir era uma mudança na relação. Colocando limites, afastamento saudável ou até não conviver nunca mais. Tudo foi escalado como podemos ler. Para o pensamento “meu deus devo ser má pessoa” deve ser feito o exercício de observação. Não somos más pessoas quando nos sentimos desrespeitados e precisamos de impor limites. A explosão de raiva demonstra a quantidade de força e ímpeto para a ação que a pessoa têm. E todos nós a temos porque todos nós precisamos ser ativos. Não é necessário, de todo, ter receio da nossa força, precisamos de saber canaliza-la. Saber que a raiva serve para irmos para a vida fazer acontecer e não para bater nas outras pessoas. Dando o simples exemplo de que se estiver alguém a agredir essa explosão de raiva ou agressividade dará jeito para agirmos em legitima defesa. Porque haveríamos de sentir culpa quando o nosso corpo nos avisa de que algo precisa de mudança? Muitas vezes fugimos quando não queremos olhar para as nossas relações porque o ato de refletir e reparar torna-se necessariamente numa obrigação fazer algo quanto a isso. Tudo isto, até a forma como vivemos, atualmente, é uma completa distorção do poder das nossas emoções.
Este assunto é muito rico e importante de ser explorado. Brevemente sairão mais textos sobre o poder das nossas emoções e o que fazer quando sentimos cada uma delas.