Um neurotransmissor não pode ser mais importante que a vida. Quando escolhes o cérebro podes estar a destruir a tua alma.
O que é dopamina?
Não sou neurocientista e, portanto, esta definição será básica e introdutória ao tema. Para quem pretende aprofundar é óbvio que recomendo irem pesquisar.
Dopamina é a molécula da motivação, ou seja, é uma substância química que promove sentimentos de prazer, motivação e recompensa. Cabe à dopamina conduzir informação do estímulo externo à emoção interna, sob a forma de impulsos nervosos. É um neurotransmissor, ou seja, uma substância que atua no sistema nervoso. Quando o corpo está perante uma situação que identifica como agradável proporciona uma sensação de bem-estar interno.
O stress, uma alimentação desequilibrada e problemas de saúde podem causar falta de dopamina. Por outro lado, podemos aumentar os níveis de dopamina através de atividades prazerosas como exercício físico, meditação, massagens, leitura, ver um filme, uma alimentação saudável com alimentos ricos em tirosina também ajuda, etc…
Uma outra forma será a de definir no seu dia a dia objetivos com metas e celebrar quando as atingir.
Qual é o problema aqui?
Estás no mundo ou já foste abduzido pelas injeções de dopamina?
Qual é a tua rotina diária? Passas 8 horas a trabalhar, 8 horas a dormir e 8 horas nas redes sociais? Passas 16 horas a jogar, ver vídeos e nas redes sociais enquanto finges que estudas? Tens 25 anos e passaste os últimos 15 ou 10 anos a jogar no teu tempo livre e não sabes o que fazer porque a tua vida resume-se a isso? Já tentaste fazer outras coisas, mas nunca é tão satisfatório do que ficar a ver vídeos na internet?
Começas a tentar mudar e percebes que cozinhar não te dá a mesma dopamina que jogar. E que a vira é dura, precisas de fazer sacrifícios. Que cozinhar demora mais tempo que comer. Porque não continuar no mesmo ciclo. Para quê cozinhar, basta comer. A vida real não é estimulante, não há nada que te faça acordar. É mais fácil jogar e jogar.
O que queres que a tua vida seja? Tudo se resume a esta pergunta. Se continuar a injetar dopamina no cérebro é o teu ideal de vida, o artigo acaba por aqui porque não precisas de ajuda para continuar a fazer o que já fazes. Caso contrário, se pretendes ter um relacionamento satisfatório, não te sentires envergonhado pelo estado da tua vida, ter orgulho em ti, queres criar algo, almejas por mais, continua a ler.
Podes inclusivamente perguntar “e se eu falhar na vida real”? Já estás. Tudo o que fizeres para melhorar será uma vitória.
Mas a questão aqui é realmente, com honestidade e não há respostas certas ou erradas: o que queres fazer com a tua vida? Se surgir uma resposta do género “supostamente será trabalhar duro e ter uma família, é o que toda a gente tem”, então mudar de vida não é o que realmente queres.
O que é mais importante para ti? Pintar uma obra de arte no final do ano ou passar o ano a jogar e a ver vídeos? O que quero traduzir aqui é a opção. A escolha que todos temos. Queres escolher a satisfação do teu cérebro ou da tua alma?
Vícios e esqueletos no armário
Podes pensar que te falta motivação, mas essa não é a verdade. Não te falta motivação quando estás escravo de um vício. Significa apenas que a tua motivação está no caminho errado. Pensa que no fundo isto provocou uma mudança no nosso cérebro que modificou a nossa lógica. Pensas que uma vida real é cheia de sacrifícios. Quando escolhes uma vida de ciclo vicioso de injeções de dopamina estás a sacrificar a vida real pela ilusória. A tua motivação para destruir a vida é imensa.
Sempre faltou alma nas nossas vidas. Em vez de saltarmos da vida real sem alma para a vida real com alma, saltamos da vida real sem alma, para uma vida virtual sem alma. Resumindo: dificultamos a nossa vida.
Quando temos uma vida dirigida pela dopamina, é muito bom para o teu cérebro, mas um deserto para a alma. Sentes um temor existencial, que a tua vida caminha no sentido errado, sentes vergonha de ti mesmo, sentes inveja de outros provavelmente. Existe uma pilha de emoções negativas que estão a abarrotar no armário. De vez em quando os teus demónios vão abrir a porta do armário porque não aguentam mais estar lá dentro. Depois requer muitas horas de jogos para voltar a empurrá-los para dentro.
É uma escolhe entre o cérebro e a alma. O cérebro teme o tédio, e a alma sente enclausurada no meio de tantos demónios. Não é a jogar o dia inteiro que descobres o sentido da vida.
O temível vício, quer seja, álcool, drogas, jogos, internet, casino, comida, pornografia, séries, vídeos, todos surgem para tapar um vazio. Quer seja solidão, falta de companhia, aumentar o teu conhecimento em vez de realmente agir em benefício do mundo. Podes ver quantos Youtuberes quiseres a conquistarem o que quer que seja que não vai apagar o facto de não teres, ainda, conseguido o mesmo por ti. A tua mente vai estar em dor, entrar para um relacionamento não é só flores, claro. Sangue, lágrimas e suor ou carregar no botão de avançar até à morte?
A dor faz parte da vida. Quando se aceitar esse facto, vamos nos sentir livres e a satisfação que retiras de fazer atividades que são boas para a tua alma vão eventualmente pesar mais que a dor. E ninguém está a pedir que tenhas uma família e que trabalhes das 9 horas às 17 horas só porque sim, mas que tornes a tua vida num ato de amor e dignidade para ti e para o mundo.
A vida não pode ser só coisas fáceis senão o sistema de dopamina vai dessensibilizar e não vais conseguir sentir mais prazer num determinado ponto. A vida não pode ser só prazer, prazer, prazer. É preciso fazer coisas difíceis, nós precisamos disso. O mundo precisa. O que seria da eletricidade, da internet se quem inventou quisesse só vida de prazer. Não existiria. Enquanto eles inventaram coisas para mudar o mundo, nós usamos a internet para nos dopar e fugir dos problemas.
Nós não fomos feitos para viver esse tipo de prazeres, na vida real não são sustentáveis. Nós fomos feitos para viver a alegria da autenticidade da alma. Somos feitos para criar e não para vivermos da criação dos outros. Quero com isto dizer que existem pessoas não viciadas que ganham dinheiro dos viciados. A indústria tabágica é um exemplo. Sendo a vida real desinteressante e a possibilidade virtual interessante, automaticamente vamos querer viver uma vida virtual. As equipas de marketing pelo mundo fora sabem isso. Somos hipnotizados e manipulados a aceitar isso.
São muito poucos a tentar evoluir o mundo e demasiados neste ciclo. Fugir do sistema não é modificar o sistema. Podemos falar que o sistema nos atira para esta forma de vida, podemos até culpá-lo, mas é inegável que aceitamos.
Não temos mais paciência, capacidade de profundidade e de trabalho para mudar as coisas que estão mal. Estamos intolerantes para com o tédio e cada vez menos profundos. Não aguentamos nem sequer 5 minutos a aprender o que já foi estudado pela humanidade quanto mais aprofundar e acrescentar sabedoria. Quanto mais criar a mudança para um mundo mais evolutivo. Um mundo que não ajude as pessoas a fazerem a escolha de sucumbir a um vício.
Como é que alguém vai se sentir bem ao fazer exercício físico se todos os dias come fast-food, bebe álcool, vê vídeos e séries o dia todo? As pessoas operam num nível de recompensa que não é sustentável nem o merecem. A vida é um desfile de desalmados.
Quero deixar aqui esta reflexão:
“Um cérebro cansado não procura descanso, procura compensações: ” Eu mereço”. Mas então pergunto mereces um chocolate ou uma vida melhor? O dia foi uma porcaria, nada de jeito foi feito, mas mereces uma recompensa? Porque o cérebro se vai esforçar se recebe recompensa mesmo sem fazer nada de bom? Uma vida feliz e satisfatória deveria ser a verdadeira recompensa. Se uma cerveja, um bolo, um cigarro, um vídeo é mais forte, então és fraco demais.”André Buric
Criatividade e tédio
O papel do tédio é fundamental. É o momento da criação. O tédio é a matéria prima do pensamento. Quando estamos atrapalhados não pensamos. Quem abomina o tédio tende a ser robot que procura entretenimento e injeções de dopamina sem entender que isso retira a capacidade de ser criativo. E criatividade é uma forma de expressão da alma que é suposto trazer alegria e inovações poderosas e belas para o mundo.
Quando sonhamos acordados, acionamos nosso subconsciente, que não é restringido por uma necessidade de ordenar as coisas, explica Sandi Mann, uma das psicólogas de Lancaster. “Nosso subconsciente é muito mais livre.” Ela explica que a chave para pensarmos de forma mais criativa é separarmos tempo para deixar a mente “passear” – embora muitos de nós tenhamos alguns momentos de ócio durante o dia, é bem provável que os preenchamos checando mídias sociais e email. Mann sugere agendarmos “sessões de sonhar acordado” ou praticar atividades como nadar, em que é possível para a mente divagar sem distrações. Isso é o que alguns dos mais bem-sucedidos homens de negócio fazem – o bilionário da tecnologia Bill Gates é um dos exemplos.
https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-41654211
Criatividade é a atitude de relaxar e abrir a mente para receber ideias. É sonhar acordado, sem direcionar pensamentos. É reparar apenas em quaisquer sensações, visões ou ideias que te invadam, como se estivesses a ver um filme. Era isto que Einstein fazia para receber as respostas aos seus problemas matemáticos. O mundo clama por criativos.
Preciso deixar de perder tempo na internet?
Mexer com os circuitos de dopamina do nosso cérebro cria uma particular tolerância aos estímulos e três possíveis sinais são:
- Se sentir atraído para fazer atividades que não se desfruta mais;
- Existe uma guerra no cérebro entre coisas que sabes que deverias estar a fazer e isso sempre perde para os impulsos de gratificação rápida e fácil;
- Atividades que parecem ser prazerosas para outras pessoas não o são para ti.
Se sentires que te descreve, continua a ler.
Como fazer um detox
Temos de dar oportunidade ao nosso cérebro de regular novamente os níveis de dopamina. Mínimo de duas semanas de detox senão os recetores não vão conseguir baixar o nível. O maior problema com o detox é o aborrecimento, o tédio que se instala no dia a dia. Coisas que era suposto darem prazer, não dão. É preciso estar mentalmente preparado para lidar com duas semanas de tédio. Outra coisa é minimizar as atividades que proporcionam dopamina. Não quer dizer que não se possa divertir, mas as atividades que dão injeções de dopamina que não se desfruta é para minimizar: jogar, redes sociais, ver vídeos no youtube, ou diretos na twitch. Ver um filme por dia tudo bem. Tempo limitado, não um scroll constante. Não façam maratona de séries, ou vídeos, ou a passar um jogo.
Se o problema é o tédio, planear o dia é muito importante. Planear ir as compras e as refeições da semana. Limpar a casa a ouvir um audiolivro ou um podcast interessante. Controlar as recaídas, é crucial saber que a tua mente vai ficar no tédio e que vai ter o impulso de pegar no telemóvel. Não vão logo às coisas difíceis como estudar ciência. Combina uma noite de jogos de tabuleiro com a tua família, ou amigos, ou namorada(o). Ou à sueca. Idealmente em pessoa porque online fica muito fácil te distraíres. Se tiveres sozinho construi um puzzle. Se fores de férias com a tua família é uma boa altura aproveita. Remove as aplicações do telemóvel durante esse tempo.
Tempo mal estruturado é a grande falha no detox. Quando a tua mente está no tédio e não tens nada planeado fica demasiado fácil voltares ao vício da injeção fácil de dopamina. Podes criar um grupo de amigos com este objetivo em comum e planearem coisas, juntarem-se diariamente para conversar sobre o progresso.
Quando mais fácil acesso a atividades de injeção fácil de dopamina mais fácil será a recaída. As recaídas são por impulsos. É necessário estar presente, mente e corpo, e já agora alma, para saber dizer não. Para dizer não, para relembrar que se está em detox e ter clareza do real objetivo. Um Ex alcoólatra sabe que basta uma bebida. Um vício do álcool não é mais vicio que um vício em jogos por exemplo.
Desinstalar jogos, desinstalar aplicações, desligar o computador. Mesmo que se volte a reinstalar jogos, existe alguns tempos em que demora a começar a jogar e é possível parar para pensar se é realmente isso que se quer fazer. É possível também usar navegadores que bloqueiam certos sites. Os smartphones têm definições e ferramentas em que é possível o controlo de tempo e de utilização de certas aplicações. A real questão é a seriedade com que se quer fazer a detox. Se é realmente, com sinceridade isso que se quer.
Em duas semanas é possível aprender uma nova habilidade, nem que seja uma nova língua.
Não sei o que quero fazer da minha vida
É absolutamente normal não saber o que fazer, o que se quer, e até quem se é depois de anos assim. Não saber o que se gosta, se temos paixão ou gosto por algo. A vida será devolvida aos poucos, é um processo de redescobrir o que faz a nossa alma vibrar. É trabalhoso no sentido de que é experimental. No início nada será mais prazeroso do que jogar ou ver youtube. Absolutamente nada. Com o tempo algumas atividades irão trazer mais alegria do que um dia inteiro a jogar. Essa alegria será natural, verdadeira. Durante o processo que pode ser de anos, haverá recaídas e é preciso perseverança. Tudo é normal. Nem se pode ser demasiado duro connosco mesmos. Esta mudança precisa de ser levada a sério. Precisa de ser um objetivo honesto. Ou seja, confiar que é possível mudar e que beneficiaremos dessa mudança. Aos poucos a clareza que o vício nos tirou será reposta.
Faz uma lista de coisas que achas que poderás gostar. Ou faz uma lista de coisas que gostavas de fazer em criança. E faz ou volta a fazer. Se descobrires que afinal não gostas não faz mal. Segue a lista em baixo.
Quando falo em experimentar, é mesmo experimentar. Passear, caminhada, fazer exercício, fazer um curso, ler, escrever, ir dançar, aprender a tocar um instrumento, ir a um bar, desenhar, conversar com outras pessoas, fazer bricolage, plantar, limpar, estar na natureza, construir mesas de madeira, cozinhar receitas de um livro, programar, ir fotografar paisagens, voluntariado, estudar, ir acampar, ir a um concerto, ir ao teatro, ir comer a um restaurante, qualquer coisa. Eu sei que a mente parece fechada, aos poucos ela vai abrir. Sei que tudo isto tudo pode parecer uma seca, mas é a vida real. Mais vale uma vida real, que uma ilusão de vida. A ideia de que somos escravos da vida e que fazemos demasiados sacrifícios é muito presente em nós, só que a escolha não é fugir da vida ao permitir ser escravo de vícios. Viver é entender que temos poder para escolher. Não precisam de trabalhar e formar família se não é o que querem. Precisam sim de escolher estar presentes, com intenção. É diferente escolher determinada coisa e automaticamente fazer algo e sentir que se perdeu tempo.
Irás acabar por diferenciar o que é os “deves” e o que realmente queres.
“Busque a liberdade e torne-se um prisioneiro dos seus desejos. Busque a disciplina e encontre a sua liberdade”
The Bene Gesserit Coda (de Duna)
Profecia Autocumprida
Para a maioria das pessoas tudo se resume à lei do menor esforço. Contentam-se com os mínimos. Hoje a maioria dos habitantes do planeta está enredada na superficialidade. Eles têm uma compreensão superficial do seu poder para evoluir. Uma intimidade superficial com as possibilidades do seu potencial. Não chegaram sequer a saber qual é. Têm um conhecimento ligeiro da neurobiologia da mestria, das rotinas diárias dos construtores de mundos e das próprias ambições saudáveis a que querem dar prioridade para o resto da vida. A maioria está presa numa forma de pensar vaga, indefinida. E uma forma de pensar vaga, indefinida, produz resultados vagos, indefinidos. Nunca vi pessoas tão exaustas e desligadas do seu trabalho, tão ausentes na vida. Pessoas presas a filosofias niilistas, pessoas a contemplar o suicídio, presas pelo que o passado ditou delas. Presas por dogmas sociais. As pessoas poderiam estar a trabalhar para deixar os outros encantados, a demonstrar as suas aptidões e receberem elogios, a disponibilizar valor para empresas e para o mundo ajudando todos a alcançar o sucesso, mas preferem ver vídeos e navegar nas redes sociais. Deixaram de lado um perfeccionismo saudável, e uma demanda incessante por serem a melhor versão de si mesmos. Desistiram simplesmente. A excelência é uma raridade e as pessoas com um desempenho brilhante são escassas. Há muita competição do que é comum. Falta valores e a confiança está deteriorada.
Nada acontece de um dia para o outro, até a cura é um processo. Pequenas vitórias diárias e as suas repetições acumulam-se até se tornarem desfechos de excelência a longo prazo. Todas as sombras da insegurança se dissolverão sob a luz aconchegante da persistência.
“As vítimas têm grandes televisores. Os líderes têm grandes bibliotecas”
Os seres humanos estão feitos para agir em consonância com a sua autoidentidade, sempre. Nunca conseguimos ir além da nossa narrativa interior.
Aderimos a uma história sobre quem somos e o que conseguimos alcançar, e depois, comportamo-nos de um modo que transforma essa fantasia numa realidade. Adotamos um padrão de pensamento que aprendemos com as pessoas que mais nos influenciaram na infância. Subconscientemente. E aquilo que fazemos cria os resultados que vemos, esta narrativa interior, geralmente equivocada, torna-se uma realidade que nós próprios criamos. O mundo é um espelho. E não recebemos da vida o que queremos, e sim o que somos. Se foges da vida, achas que ela vai atrás de ti?
Quanto mais aceitamos essa convicção central acerca da nossa incapacidade perante a vida, seja qual for o nosso objetivo, mais a reforçaremos de modo a tornar-se numa certeza em que confiamos. Assim mais profundamos o comportamento associado a ela, convertendo-a num hábito diário.
Todos os seres humanos têm um instinto de grandiosidade, uma sede de heroísmo e uma necessidade psicológica de alcançar o patamar das suas melhores aptidões, quer o tenham presente na consciência quer não. Muitos de nós foram tão minimizados e espezinhados pelas influências malignas e tóxicas à nossa volta que se esqueceram de quem realmente são. Tornaram-se mestres da cedência, aceitando lenta e permanentemente mais aspetos da mediocridade, até que chega um ponto em que isso se tornam o seu procedimento padrão.
Há uma diferença entre a realidade e a nossa perceção. Vemos o mundo através de um filtro composto por todas as programações pessoais e depois corremos esse programa no nosso sistema tantas vezes que ocorre uma lavagem cerebral e passamos a acreditar que o modo como vemos o mundo corresponde à realidade. Passamos a agir como vítimas.
Não são apenas os nossos pais os responsáveis, obviamente. Muitos professores bem-intencionados, mas inconscientes reforçam a ideia de que os génios heroicos das artes, das ciências, do desporto e das humanidades são “especiais” e que temos de aceitar que nós somos “comuns”, incapazes de produzir um trabalho brilhante cuja excelência deixe as outras pessoas sem fôlego. Temos também a influência dos nossos amigos e mensagens constantes dos meios de comunicação que reforçam os mesmos factos. No fundo, gera-se um hipnotismo constante, que sem darmos conta, extingue o fogo da genialidade que costumava arder com força dentro de nós. Em pequenos queríamos ser astronautas! E a voz da possibilidade, em tempos arrebatadoras, tornam-se silenciosas. Minimizamos as nossas capacidades e começamos um processo vitalício em que usamos pouco as nossas aptidões e construímos prisões em torno dos nossos pontos fortes.
O potencial que não se concretiza transforma-se em sofrimento. Os nossos Eus mais elevados conhecem a verdade que cada um de nós nasceu para criar maravilhas com os nossos dons humanos e materializar feitos incríveis com os nossos talentos produtivos. No entanto, resignamo-nos nesta apatia de vida. Decido a esta perceção equivocada acerca de quem realmente somos e do que realmente conseguimos alcançar. Mantendo-nos violentamente presos em dia a dias semivividos. Quando traímos o nosso verdadeiro potencial, uma parte de nós começa a morrer.
Se não prestarmos atenção ao sofrimento, começa a formar-se dentro de nós um grande reservatório de medo e autodesprezo. A maioria das pessoas não tem a consciência necessária, nem as ferramentas para digerir este poço de angústia reprimida. Não se apercebem da tormenta silenciosa criada ao desrespeitarem o seu potencial. E, portanto, negam-no quando alguém o sugere. Fogem disso quando surge uma oportunidade de se manifestar. E desenvolvem uma série de escape nocivo, vulgo vícios, para evitarem sentir esse sofrimento, gerado pela rejeição dos seus talentos. Inventamos desculpas e depois recitamo-las tantas vezes que o nosso subconsciente começa a acreditar que corresponde à verdade. Culpamos os outros, apontamos o dedo a acontecimentos passados.
Se porventura achares que este texto não te ajudou, que as coisas são mais difíceis que isto, acho que está na altura de desligar o computador e procurar terapia. Normalmente quando deixamos de fugir da dor, ela aparece maior com outras questões associadas para que lidemos com isso também, sugerindo novas mudanças.