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Estudo sobre os Benefícios da Meditação

O que a ciência diz sobre a meditação

30 de junho de 2021

Um jornalista cético decidiu fazer uma investigação sobre que efeitos teria a meditação sobre si após 2 meses de práticas diárias. Acreditava que só iria conseguir levar a sério se fosse provado concretamente que muda o cérebro para melhor. 

Antesde começar, Phillips, o jornalista cético, foi avaliado por uma equipa daUniversidade Monash, liderada pelo Dr. Neil Bailey, professor de psicologia biológica, e pelo Dr. Richard Chambers, psicólogo clínico. Estes submeteram-no a uma série de exames para lhe avaliar a memória, o tempo de reação e a capacidade de se concentrar. Também usaram uma máquina de ressonância magnética para medir o volume de cada região do seu cérebro, em particular as regiões responsáveis pela memória e pela aprendizagem, pelo controlo motor e pelaregulação emocional.  

Ao fim de 2 semanas, apenas, a praticar meditação de atenção plena ou mindfulness, Phillips sentia-se menos stressado e mais capaz de lidar com os desafios do seu trabalho e da sua vida.  

Comunicou que “se apercebe do stress, mas não fica absorvido por ele”. 

8 semanas depois, regressou à Monash para ser avaliado. Bailey e Chambers submeteram-no à mesma série de exames. Constataram que melhorara em tarefas comportamentais, embora revelasse uma atividade cerebral diminuída. Os investigadores notaram que o seu cérebro se tornara mais eficiente a gerir a energia. Revelava uma diminuição geral da atividade neuronal, tendo melhores resultados, mas gastando menos energia. Os exames à memória também melhoraram. O seu tempo de reação a acontecimentos inesperados diminuíra quase meio segundo.  

Uma das regiões cerebrais que os investigadores mediram foi o hipocampo. Atentaram em especial ao giro dentado, a parte do hipocampo responsável por regular emoção noutras partes do cérebro. Exerce controlo sobre a rede em modo padrão, a parte do cérebro que se encontra ativa quando não estamos dedicados a uma tarefa. Constataram que o volume das células nervosas no giro dentado aumentara 22,8 por centro. 

Trata-se de uma mudança enorme. Uma reconfiguração cerebral como esta vê-se por vezes em jovens cujo cérebros ainda estão a crescer, mas raramente é observada em adultos. A alteração no cérebro de Phillips indicava uma capacidade de regular emoção drasticamente aumentada. Exames psicológicos revelaram que ascapacidades cognitivas de Phillips também tinham aumentado imenso.  

Há muitos estudos a comprovar que a meditação altera a estrutura do cérebro. Uma revisão da investigação sobre a meditação ligada ao mindfulness foi publicada na prestigiada revista académica Nature Reviews Neuroscience. Nos 21 estudos analisados, os participantes foram colocados em máquinas de ressonância magnética para medir o volume de cada parte do seu cérebro antes e depois da meditação tal como Phillips.  Esta acumulação de um conjunto de evidências identificou crescimento neuronal em “várias regiões cerebrais [...] sugerindo que os efeitos da meditação poderão envolver redes cerebrais de larga escala”. A revisão constatou aumentos no volume de ”regiões cerebrais envolvidas no controlo da atenção (o córtex cingulado anterior e o corpo estriado), na regulação emocional (várias regiões pré-frontais, regiões límbicas e o corpo estriado) e na autoconsciência (a ínsula, o córtexpré-frontal médio, o córtex cingulado posterior e o pré-cúneo)  (Tang, Holze & Posner, 2015).

Tal como o cérebro de Philips, o seu está constantemente a reconfigurar se. O cérebro acrescenta capacidade neuronal às regiões que exercitamos. Se escolher uma experiência diferente, como a meditação, o seu cérebro começará a funcionar de maneira diferente.  

Se alterar a sua mente, a informação começará a fluir por novos caminhos neuronais no seu cérebro, os neurônios vão reconfigurar-se de acordo com isso, esperando e modificando-se para se enquadrar no novo padrão. Conforme a mente diz, o cérebro assim o responde. 

Isolemos os elementos-chave da história de Philips. São cinco: 

  1. Um aumento de 22,8% no volume da parte do cérebro responsável pela regulação emocional; 
  2. Redução do tempo de resposta do cérebro, melhor memória, mais capacidades cognitivas, melhoria de capacidades comportamentais; 
  3. Um cérebro mais relaxado e energeticamente eficiente; 
  4. Alterações no cérebro em apenas 8 semanas; 
  5. Nada de medicamentos, cirurgias, suplementos ou grandes alterações do estilo de vida - apenas atenção plena. 

Imagine ter mais de 22,8% de células nervosas no cérebro para lidar com a questão da regulação emocional. Regulação emocional poderá ser um palavrão da neurociência, mas essas duas palavras têm um grande impacto na sua vida diária. Melhor regulação emocional significa que um indivíduo não se deixa descarrilar perante desafios comuns como: 

  • Ser provocadopor colegas de trabalho; 
  • Coisas irritantes que o cônjuge ou parceiro diga ou faça; 
  • Sersurpreendido por ruídos ou visões súbitas; 
  • O comportamentoproblemático dos filhos; 
  • O que ospolíticos dizem e fazem; 
  • Ficar preso no trânsito; 
  • Ver as notícias; 
  • Aparência e o funcionamento do corpo; 
  • Perder ou ganhar jogos ou conflitos com outras pessoas; 
  • Conflitos religiosos ou perspetivas alheias; 
  • A bolsa, os investimentos e a economia; 
  • Manter a calma quando as pessoas em volta estão stressadas; 
  • Ter falta de tempo o sentir-se assoberbado; 
  • A quantidade de dinheiro que se tem ou se espera ter; 
  • A forma como os outros conduzem; 
  • A idade e a forma como o corpo vai mudando; 
  • Multidões, compras e proximidade física com outras pessoas; 
  • Opiniões alheias que choquem com as suas; 
  • As expectativas acerca da forma como a vida deveria ser; 
  • O que os pais pensam e o que dizem; 
  • Ter de esperar numa fila ou por algo que se queira; 
  • Os estilos de vida invejáveis de estrelas de cinema e celebridades; 
  • Pessoas que fazem exigências indesejados do seu tempo e da sua atenção; 
  • Posses que se tenha ou não; 
  • Parentes irritantes com quem se interage em reuniões familiares; 
  • Percalços imprevistos da vida quotidiana; 
  • Obter ou não promoções, recompensas e outras coisas desejadas; 
  • … e qualquer outra coisa que o incomode habitualmente. 

Imagine ter um cérebro com uma capacidade vastamente aumentada de lidar com estes desafios, impedindo-os de comprometer a sua felicidade. A meditação não se limita a alterar o seu estado - a forma como se sente no momento… altera as suas características - os aspetos duradouros da personalidade, gravados no cérebro, que governam a sua perspetiva sobre a vida. Entre os traços positivos fomentadas pela meditação, contam-se uma maior resiliência perante a adversidade, mais empatia pelos outros e uma maior compaixão por si mesmo (Goleman & Davidson, 2017). Também leva a um maior grau de autorregulação, tornando-nos mestres das nossas emoções, em vez de escravos delas.

As partes do cérebro envolvidas da regulação emocional são também as que lidam com a memória operacional, tal como foi revelado por ressonâncias magnéticas (Schweizer, Grahn, Hampshire, Mobbs & Dalgleish, 2013). A memória operacional envolve a atenção, permitindo-nos permanecer numa atividade e distinguir informaçãorelevante da irrelevante. Quando as emoções se perturbam, essas partes do cérebro deixam de estar disponíveis para a memória operacional. É então que se tomam más decisões. Quando aprendemos uma regulação emocional efetiva, como Philips aprendeu, tornamo-nos capazes de controlar as emoções, libertando os circuitos cerebrais da memóriapara gerir a vida de forma sensata. 

 

Texto de Dawson Church autor de "Da Mente à Matéria"